O Caso VASP – Voo 169

Por: Jackson Camargo Comentários: 0

A noite de 8 de Fevereiro de 1982 ficou marcada na memória de passageiros e tripulantes de um voo comercial, da companhia VASP, que fazia um voo entre Fortaleza (CE) e Rio de Janeiro (RJ). Durante várias horas, o avião Boeing 727 foi acompanhado por um objeto luminoso, que permaneceu à esquerda do avião, impressionando todos a bordo.


Neste artigo:


Por Jackson Luiz Camargo – ufojack@yahoo.com

Introdução

Naquela noite, o Voo 169, da companhia VASP, seria realizado pelo Boeing 727-200, prefixo PP-SNG, comandado pelo capitão Gerson Maciel de Britto, com o copiloto Carlos Alberto Goes de Brito e o Engenheiro de voo Francisco Cesarino. Seu destino era a cidade do Rio de Janeiro (RJ) e em seu trajeto de voo, passaria sobre as cidades de Petrolina (PE) e Belo Horizonte (MG) e por fim chegaria à cidade do Rio de Janeiro (RJ).

O comandante Britto era, naquela época, um experiência piloto comercial, acumulando já 22 mil horas de voo em variados tipos de aeronaves. Ele formou-se pela Escola Preparatória de Cadetes do Ar, cursando também a antiga escola da Aeronáutica. Ao longo de sua carreira participou de vários cursos de adestramento sendo também instrutor de voo. Participou da Comissão Permanente de Tráfego Aéreo no Brasil, sendo também membro permanente da SIPAER, como adjunto na Comissão de Investigação de Acidentes Aeronáuticos e um dos fundadores do Ensino Teórico para Pilotos Profissionais, do respeitado Sindicado Nacional de Aeronautas. Um profissional extremamente competente e gabaritado, que estava no local certo e na hora certa, para testemunhar um dos mais espetaculares casos ufológicos do Brasil.

O avião decolou pontualmente às 01h50, do Aeroporto Internacional de Fortaleza, seguindo normalmente seu plano de voo pela aerovia UR 1. O tempo estava bom ao longo da rota, com céu claro e o voo ocorreu com tranquilidade. Por volta de 3h12, pouco antes de passar sobre a cidade de Petrolina (PE), Comandante Britto observou, à esquerda da sua aeronave, um foco luminoso semelhante ao farol luminoso de uma aeronave. Aquela luz, naquela posição, surpreendeu o piloto, que não havia sido alertado pelos controladores de voo sobre tráfego aéreo naquele setor.

Este é o Boeing 727-200, da VASP, prefixo PP-SNG, que foi acompanhado por um OVNI, na madrugada de 8 de fevereiro de 1982.

 

Então, Britto reduziu as luzes internas da cabine para observar melhor, e sinalizou, com os faróis de sua aeronave, ainda acreditando tratar-se de um avião fora de rota. Além disso, tentou comunicações na frequência padrão, 126.9, sem qualquer resposta. Naquela noite, as condições de visibilidade eram ótimas, com tempo bom e Lua Cheia, deixando a noite bem clara e com pontos de referência no solo claramente perceptíveis.

A luz observada mostrava-se compacta, viva e de aspecto diferente dos corpos celestes, como estrelas ou mesmo o planeta Vênus, várias centenas de vezes observadas pelo piloto ao longo de sua carreira. Apresentava variação de cores, com tons avermelhados nas bordas e com núcleo com variação de azul e branco.

Comandante Britto continuou observando atentamente o estranho objeto, junto ao piloto e ao técnico que voo, que compunham a sua tripulação. Ele percebeu que o objeto efetuava deslocamentos no sentido vertical, acima do ponto de origem e abaixo, em relação ao seu eixo, sendo uma variação visual bastante significativa.

Comandante Gerson Maciel de Britto.

 

Às 3h49, já próximo à Belo Horizonte, o comandante Britto contatou o Centro Brasília questionando se havia algum tráfego aéreo, na posição de 9 horas (lado esquerdo) de sua aeronave. Em resposta, o CINDACTA informou que nada via nos radares. A comunicação entre Comandante Britto e o Centro, nos permite ter uma ideia mais apurada sobre o avistamento:

VASP – 169: Brasília! VASP Uno Meia Nove.
CENTRO BRASÍLIA: VASP Uno Meia Nove, prossiga!
VASP – 169: Poderia informar se há algum tráfego no seu scope aí, na posição nove horas do VASP Uno Meia Nove?
CENTRO BRASÍLIA: Desconheço, VASP Uno Meia Nove.
VASP – 169: Estamos observando uma, aparentemente uma aeronave, mas a iluminação muda sistematicamente de cor. É alaranjado, vermelho, ou branco. Aparentemente pareceu um tráfego com as luzes acesas, mas como está uma variação de cores muito acentuada nós estamos até desconfiados que seja alguma coisa diferente.
CENTRO BRASÍLIA: Ciente. Não temos tráfego nenhum nessa posição nesse momento.
VASP – 169: É. Então nós vamos saber para identificar qualquer coisa que seja. Tem alguma outra aeronave nesta região decolado, que está com o radar de Brasília?

 

Visão parcial da sala de controle do CINDACTA I, em Brasília, na época do caso.

 

O diálogo entre o VASP – 169 e o CINDACTA podia ser ouvido por qualquer outra aeronave na região. Poucos minutos depois, outras aeronaves confirmaram a presença do misterioso objeto. A primeira confirmação visual veio dos pilotos Milton Missaglia e Mário Pravato, de um voo da Transbrasil, na rota Manaus – Rio de Janeiro.

VASP – 169:

Poderia solicitar ao Argentina se está observando estas amputações que temos observando no radar na nossa posição, no momento a oito horas?
CENTRO BRASÍLIA: Confirme, o Argentina ver o que?
VASP – 169: Nós informamos ter observado uma sinalização possivelmente… De uma nave, mas Brasília contestou que estava recebendo e não tem nenhum tráfego nesta posição. Agora estamos voltando a observar uma luminosidade muito intensa e mais ou menos próximo do Vasp Uno Meia Nove e eu queria saber se tem outra aeronave que está recebendo também.
CENTRO BRASÍLIA: Ok. Aguarde.
VASP – 169: Ciente.
CENTRO BRASÍLIA: Brasil Uno Sete Sete, Brasília.
QD-177
(Transbrasil):
Uno.
CENTRO BRASÍLIA: Ok, o Brasil Uno Sete Sete, o tráfego do Vasp Uno Meia Nove está a vinte e cinco milhas sul de Belo Horizonte, nível trezentos e dez. Confirme se observa alguma luminosidade nas proximidades do tráfego.
QD-177
(Transbrasil):
Estamos avistando aqui realmente uma nuvem bastante grande e aparentemente fixa e seguinte como o Vasp está reportando.
CENTRO BRASÍLIA: Ok Brasil Uno Sete Sete… Argentina Uno Meia Nove, Brasília. 
AR-169
Aerolíneas Argentinas:
Adiante Brasília, Uno Meia Nove.
CENTRO BRASÍLIA: Ok, o tráfego do Vasp Uno Meia Nove está no momento trinta milhas ao sul de Belo Horizonte, no nível três três zero Indaga se observa alguma luminosidade próximo ao tráfego dele.
AR-169
Aerolíneas Argentinas:
Repita, por favor… Se essa aeronave…
CENTRO BRASÍLIA: Ok, Argentina Uno Meia Nove. Confirme se observa alguma luminosidade nas proximidades do bloqueio de Belo Horizonte.
AR-169
Aerolíneas Argentinas:
Alguma luminosidade no bloqueio Belo Horizonte?
CENTRO BRASÍLIA: Afirmativo.
AR-169
Aerolíneas Argentinas:
Negativo, estou com pouca visibilidade nesse momento por nebulosidade.
VASP – 169: Brasília, Vasp uno meia nove.
CENTRO BRASÍLIA: Prossiga uno meia nove.
VASP – 169: Olha, agora a sinalização foi informada que está intensa, muito intensa como se fosse uma aeronave com as ruwarys ligadas. Eu gostaria que Brasília verificasse esta observação para efeito de dados possivelmente, ok?
CENTRO BRASÍLIA: Ok, Vasp uno meia nove.

 

Comandante Gerson Maciel de Britto, na cabine do boeing 727-200, no pátio do Aeroporto de Congonhas, respondendo à perguntas da Imprensa.

 

Este trecho do diálogo mostra o lado profissional do piloto, que na época fazia parte de organizações voltadas à segurança do tráfego aéreo. O fato de solicitar registro e verificação dos fatos indica sua intenção de que tal fato fosse analisado pelas autoridades responsáveis.

Ilustração feita na época, demonstrando a trajetória de voo do VASP 169 e do Transbrasil 177, além da trajetória de voo do misterioso objeto.

 

Às 4h17, iniciam-se os procedimentos de pouso no Aeroporto Internacional do Galeão. Durante a troca de mensagens, o Comandante Britto solicita, novamente, ao Centro que confirme com outras aeronaves de avistam algum objeto anômalo no céu.

CENTRO BRASÍLIA: VASP uno meia nove, quando pronto liberado para cento e vinte, VASP meia nove.
VASP – 169: Uno meia nove ciente. Brasília poderia solicitar ao Argentina para efetuar nova observação quanto essa luminosidade que estamos observando?
CENTRO BRASÍLIA: Ok, ele está com a radial dois quatro zero de Belo Horizonte, está na proa de Campinas já estabilizada a trinta milhas a Sudoeste.
VASP – 169: Positivo.
AR-169
Aerolíneas Argentinas:
Favor, VASP uno meia nove aqui é Argentina uno meia nove.
VASP – 169: Na sua escuta Argentina.
AR-169
Aerolíneas Argentinas:
Favor em que posição vem a luminosidade?
VASP – 169: Estou a setenta e uma milhas de Piraí, de Caxias o nós estamos observando na posição nove horas do VASP , nos bloqueios a sete minutos Belo Horizonte .
AR-169
Aerolíneas Argentinas:
A nove horas de sua posição?
VASP – 169: Nossa posição nove horas no momento.
AR-169
Aerolíneas Argentinas:
Você esta aproando Campinas?
VASP – 169: Estou aproando Barra do Piraí, o Rio de Janeiro.
AR-169
Aerolíneas Argentinas:
A Barra. É mais ou menos a sua altura ou mais abaixo?
VASP – 169: 0 VASP uno meia nove livrou três uno zero para uno dois zero.
CENTRO BRASÍLIA: Ciente, VASP uno meia nove, informo que estou recebendo um ponto desde cinquenta milhas sul de Belo Horizonte um ponto exatamente na posição nove horas, seguindo o impulso exato do VASP uno meia nove.
VASP – 169: Afirmativo Brasília, ciente, obrigado.
CENTRO BRASÍLIA: Ok, o afastamento dele na posição nove horas é de, em torno de oito milhas
VASP – 169: Afirmativo, oito milhas do VASP , positivo?
CENTRO BRASÍLIA: Positivo, ele está oito milhas na posição nove horas. Ele segue precisamente o VASP uno meia nove.
VASP – 169: Ok.
QD-177
(Transbrasil):
0 Brasil, uno sete sete, poderia informar a distância para Porto, Piraí?
CENTRO BRASÍLIA: Ok, o Brasil uno sete sete, a sua distância para Piraí é cinquenta milhas. Está liberado para cento e trinta. O seu tráfego e o VASP uno meia nove que está na sua posição onze horas, vinte  e seis milhas .
QD-177
(Transbrasil):
Positivo, essa luminosidade que o VASP vem reportando nós estamos observando. Está na nossa posição onze hora, ok?
CENTRO BRASÍLIA: Ok!
AR-169
Aerolíneas Argentinas:
Não será Vênus?
QD-177
(Transbrasil):
E, mas se Brasília tá recebendo no radar.

 

Segundo artigo posterior, escrito pelo Comandante Britto e publicado na revista UFO Especial nº 3. Página 20, “O foco aparentava afastar-se no plano horizontal e reassumir o ponto anterior, reaproximando-se a velocidade muito grande.  A intensidade e dimensão diminuía e aumentava em ciclos alternados, e também com as mutações de cores”, o que já evidencia um padrão muito diferente do verificado em corpos celestes, como estrelas e planetas.

A confirmação visual dos pilotos da Aerolíneas Argentinas e da Transbrasil, e o posterior registro em radar, confirmam a presença de um objeto real, sólido, que acompanhava a aeronave da VASP.

Comandante Gerson Maciel de Britto, desenhando o objeto avistado, com suas variações de cores. Revista Veja, Edição 702, de 17 de fevereiro de 1982

 

Com as confirmações visuais destas duas aeronaves em rotas diferentes, ângulos de observação diferentes mas com descrição semelhante de detalhes, evidentemente, torna este evento um fato real e irrefutável.

Após a confirmação visual por parte destas aeronaves, e já com a confirmação positiva da presença desse objeto pelos radares do CINDACTA, o Comandante acordou os passageiros, informando-os da presença do OVNI, que segundo os radares, encontrava-se a apenas 8 milhas de distância. Os passageiros colocaram-se a olhar com admiração o fenômeno e alguns chegaram à fotografá-lo. Precisamente neste momento, o objeto aparentemente aproximou-se da aeronave, mostrando ainda maior brilho e beleza.

Desenho do Comandante Gerson Maciel de Britto, indicando os movimentos que o objeto fazia, sob a perspectiva da janela lateral do avião.

 

O objeto continuou a ser observado pela tripulação até duas milhas do marcador externo da pista 14 do aeroporto do Galeão, quando mudou sua posição, deixando de ser visto pela lateral da aeronave, colocando-se agora diretamente à sua frente. Como a aeronave encontrava-se agora em procedimento de pouso os pilotos concentraram atenção em suas tarefas deixando de ver o objeto. O pouso do avião ocorreu normalmente naquele aeroporto e seguindo seu cronograma, o avião partiu em voo para o Aeroporto de Congonhas, seu destino final.

Comandante Britto redigiu um relatório interno para a Companhia onde descreveu suscintamente os fatos ocorridos no voo. O relatório de voo foi enviado ao Comandante Wladimir Veja, gerente do Departamento de Operações da VASP e assessor do presidente da empresa, Carlos de Matos Gaspar. Após exaustiva análise dos fatos, o relatório foi liberado publicamente, dias depois.

Clique aqui para acessar o relatório interno da VASP

 

Divulgação do caso

Naquela época era comum que órgãos de imprensa mantivessem salas de imprensa e repórteres de plantão em grandes aeroportos. Um desses repórteres, Luiz Duarte Amorim Filho, da Rádio Bandeirantes AM, estava junto ao desembarque de passageiros do aeroporto de Congonhas e ouviu os comentários sobre a presença do OVNI acompanhando o voo. A notícia se espalhou para outros órgãos de imprensa e logo os jornais já divulgavam a ocorrência que logo chamou a atenção no Brasil e em outros países.

Comandante Britto logo foi abordado pelos jornalistas, respondendo às suas perguntas. O jornal Correio Brasiliense publicou uma entrevista realizada com ele:

Até hoje os ufólogos brasileiros consideram o caso do vôo da VASP uma das maiores provas de que a existência de disco voadores não é uma história inventada. Nesta entrevista ao Correio Braziliense, o piloto Gerson Maciel de Britto , de 59 anos (à época) que hoje está aposentado, conta o que viu naquela noite.

Correio Braziliense – Qual foi a sua emoção ao ver que um UFO se aproximava do avião?
Comandante Britto – Não tive pavor ou medo, nem outro sentimento que não fosse de entusiasmo.

CB – Poderia descrever o momento do encontro?
Britto – Saimos de Fortaleza 02,00h. Por volta de uma hora depois, vimos um ponto de luz branco, mais ou menos como o descrito em Bariloche, na Argentina. Em seguida houve uma mutação de cores alaranjada, azuladas e esverdeadas. O interessante é que se deslocava dentro de condições físicas desconhecidas: parava e acelerava.

CB– O UFO os acompanhou durante toda a viagem?
Britto – Ele se manteve próximo do avião durante 01,25h. Sempre se deslocando e mudando de cores. Muito passageiros o fotografaram. O objeto se afastou de nós quando já estávamos chegando ao Rio de Janeiro.

CB – O Centro Integrado de Defesa e Controle do Tráfego Aéreo (Cindacta) alegou que se tratava de anomalia eletrônica ou mesmo do planeta Vênus.
Britto – Isso foi uma coisa para desconversar. Tudo o que aconteceu foi gravado e está nos arquivos do CINDACTA. A Aeronáutica deve uma explicação à sociedade brasileira sobre esse fenômeno. Em 1986, alguns caças também foram interceptados por UFOs e o ministro Moreira Lima (Da Aeronáutica) prometeu apresentar um relatório sobre o caso que até hoje não apareceu.

CB – Os seus depoimentos não lhe prejudicaram a carreira de piloto?
Britto – Não prejudicaram porque não houve como contestar o que aconteceu. Quando 150 pessoas dos mais variados níveis culturais e profissionais vêem o mesmo que você, ninguém pode contestar.

CB – Mas, alguns religiosos que estavam no avião disseram não ter visto o OVNI?
Britto – Dom Aloísio Lorsheider e outros religiosos que iam para uma reunião em Itaici, São Paulo, estavam no avião e foram chamados para ver. Dom Aloísio até se mostrou muito interessado, mas sabe como é, assumir a posição para eles é muito difícil.

 

Para o jornal O Globo, Britto declarou:

Era uma estrela enorme. Um holofote fortíssimo que iluminava toda a superfície esquerda do avião, principalmente a asa… Uma bola de futebol incandescente, com luz extremamente branca… Uma luz que acompanhou o avião por muito tempo… Sei lá, não sei como definir aquilo.

Ainda naquele dia, Britto voltaria ao Rio de Janeiro onde mora, onde concedeu novas entrevistas para revistas e programas televisivos.

Havia 152 pessoas a bordo do voo 169, e vários deles também foram entrevistados pela imprensa. Destes, 146 observaram nitidamente o misterioso objeto. Apenas quatro deles, bispos da CNBB, não quiseram observar o fenômeno. Eram eles: Dom José Teixeira, bispo auxiliar de Fortaleza; Dom Edmilson Cruz, bispo de Crato; Dom Pompeu Bessa, de Limoeira do Norte; e Dom Aloísio Lorscheider, cardeal arcebispo de Fortaleza.

Dom Aloísio Lorscheider, então Arcebispo de Fortaleza.

 

A passageira Silézia Paes Del Rosso, que ocupava uma poltrona logo atrás do bispo auxiliar de Fortaleza, comentou que os religiosos “Não queriam saber dessas coisas e nem procuraram olhar pelas janelas“. O próprio Dom Aloísio justificou-se depois: “Acordei com a comunicação do comandante anunciando o avistamento de objeto luminoso, mas preferi deixar o disco voador para lá, não olhei“. Silézia Paes Del Rosso foi uma testemunha entusiástica, pois seu depoimento foi mais longe: “Depois, os religiosos ficaram interessados em saber o que eu havia visto. E realmente vi. Ele brilhava como uma lâmpada de mercúrio de iluminação pública. Eram luzes em número de cinco, umas separadas das outras, lembrando um lustre achatado. Fiquei empolgada e todos os passageiros procuravam inteirar-se do avistamento, disputando as janelas à esquerda do avião. Mesmo assim estavam todos calmos, como se estivessem acostumados a ver todos os dias os objetos voadores não identificados. Para mim, isso foi pela primeira vez.“, concluiu Silézia Paes Del Rosso.

Já Eliane Belashi, orientadora pedagógica, relatou à imprensa:

O voo foi muito bom. Por volta das 4h da manhã, eu estava tentando dormir, pois não consigo dormir em viagens, e pensei que as luzes do avião tivessem se acendido. Quando abri os olhos, enxerguei uma luz imensa do lado de fora, exatamente onde eu estava sentada, ou seja, sobre a asa esquerda. O clarão era realmente muito forte. O avião por dentro ficou inteiramente iluminado. Quando abri os olhos, pensei que as luzes do avião tivessem se acendido. Pouco  depois, o comandante acordou os passageiros pelo rádio para comunicar o que estava acontecendo. Ele disse que queria que testemunhássemos aquilo porque o radar não havia detectado que objeto era aquele, que ele já havia comunicado à torre que o objeto o estava seguindo há uns 10 minutos, sempre irradiando e emitindo lampejos, a cerca de oito milhas (quatro quilômetros) de distância do avião, que ficou inteiramente iluminado por dentro. Os passageiros passaram para o lado esquerdo para ver o objeto. Logo que ele acordou as pessoas houve um certo suspense, uma confusão, todos falando ao mesmo tempo. Quando descemos ele pediu para que fizéssemos um registro, pois ele iria comunicar o acontecimento à Polícia Federal. Pouco antes de pousarmos no Rio, o objeto sumiu. O que era aquilo? Sinceramente não sei. Mas era muito estranho. Eu não me perturbei, até por uma questão de filosofia espiritualista que reje a minha vida. E concluiu: “acho que assim como nós temos nossos aviões, eles podem ter os deles. Dom Aloísio estava no vôo, mas não chegou a falar com ele. Embarcou em Fortaleza junto com outros cinco padres e sentaram-se na frente. Se falou alguma coisa, eu não ouvi”.

Paulo Cesar e Eliane Belashi, por Anibal Philot.

 

Bento Lacerda César, Coronel reformado do Exército e médico em Rio Claro (SP), declarou: “era parecida com uma salsicha afunilada nas duas pontas”.

Walter Franco, funcionário do Jóquei Clube de São Paulo, ficou impressionado com as manobras do objeto que “andava mais rápido que o avião”, e seu aspecto era de “oito estrelas juntas, com um clarão azulado”.

Lígia Auxiliadora Rodrigues, fotógrafa do Estúdio Rush, em São Paulo, na ocasião portava uma máquina fotográfica Nikkon Fm 50, com filme profissional VPF e fez seis fotografias do objeto. Segundo ela, o objeto teria ¾ do tamanho da Lua Cheia, apresentando cor azulada.

Fotografia do OVNI que seguiu o avião da VASP, em 8 de Fevereiro de 1982 e publicada na revista Veja, de 17 de Fevereiro de 1982.

 

Fotografias feitas durante o voo 169, da VASP, em 8 de Fevereiro de 1982, por Lígia Auxiliadora Rodrigues.

 

Fotografias feitas durante o voo 169, da VASP, em 8 de Fevereiro de 1982, por Lígia Auxiliadora Rodrigues.

 

Fotografias feitas durante o voo 169, da VASP, em 8 de Fevereiro de 1982, por Lígia Auxiliadora Rodrigues.

 

Fotografias feitas durante o voo 169, da VASP, em 8 de Fevereiro de 1982, por Lígia Auxiliadora Rodrigues.

 

Já o comandante da Transbrasil Mário Pravatto, declarou ao jornal O Globo:

Comecei a observar a luminosidade do objeto por volta das 3h40 e confirmo tudo o que o Comandante Britto, da Vasp, informou. Era uma coisa muito linda. Uma luz muito forte que até hoje eu nunca tinha visto. Era muito potente. Tinha forma arredondada bem maior do que um aparelho de TV a cores. O que me chamou mais a atenção foi o tipo de luz e a claridade que emitia. (…) Olha, eu não posso afirmar categoricamente que se tratava de um disco voador. Mas tenho certeza de que não era Vênus, como chegaram a noticiar. Vênus é um planeta que sempre é avistado a olho nu pelos pilotos. Emite uma luz mais fraca e seu tamanho, da cabine de um jato, pode ser comparado ao de uma bola de futebol de salão. O objeto que acompanhava o Boeing da Vasp era do tamanho de uma TV a cores de 16 polegadas. Eu já vi Vênus várias vezes, mas nunca com essa claridade”.

Mário Pravato, piloto da Transbrasil, em fotografia de Antonio Carlos Piccino.

 

Outros passageiros fizeram relatos sobre o fato. Maria Silva Marrocos disse ter visto “um ponto de luz muito forte, que aumentava e diminuía de intensidade. Fiquei emocionadíssima”. Sua amiga, Ana Lúcia Ximenes, definiu o objeto como sendo como uma outra Lua no céu. Francimeire Saraiva de Araújo descreveu o fenômeno como “um círculo com luz flourescentes, um OVNI sem dúvida”. Já Rômulo Andrade Lima conta que: “o formato (do OVNI) era oval, o centro mais luminoso e as bordas mais claras. Mas não vi as tais pontas que outros passageiros falaram”. Sandra Helena Vieira declara: “fiquei surpresa e emocionada. Vi uma luz intensa que se aproximava e se afastava. Gostaria que ‘eles’ entrassem em contato conosco”.

Investigações posteriores revelaram várias outras testemunhas em solo, que confirmam a presença do estranho objeto na rota de voo do avião da VASP. Virgínia Drummon, psicóloga, que na época morava no bairro Vital Brasil, em Niterói (RJ), foi uma dessas testemunhas. Ao acordar de madrugada, foi até a sala de seu apartamento e observou, sobre as águas da Baía de Guanabara, um objeto muito luminoso e multicolorido, com um tamanho aproximado da Lua Cheia, tendo na parte inferior algo como raios, um maior que o outro, na cor azul clara, depois mudando para ver. Impressionada, ela acordou sua filha, Liana, e ambas ficaram observando o objeto luminoso. Pouco depois, elas ouviram ruído de avião e nesse momento a luz do objeto foi encolhendo e se tornou um ponto de luz no céu, que depois desapareceu completamente.

Tentativas Levianas de Explicação

Após o incidente envolvendo os aviões da VASP, Transbrasil e Aerolíneas Argentinas, aconteceram várias tentativas de desacreditar o caso. Cientistas, céticos e pseudocéticos negacionistas nutriram esforços na tentativa de derrubar o caso. Já nos dias seguintes o caso ocorreu o mais famoso deles, quando o astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão declarou à imprensa que o Comandante Britto teria confundido o planeta Vênus. Visando provar sua tese, ele embarcou no mesmo voo, realizado dias depois, no mesmo horário. Tendo observado o planeta Vênus, ao final do voo, insistiu em sua tese de que o Comandante Britto se enganou, ignorando completamente a experiência do piloto na observação celeste, os detalhes do objeto observado, que eram bem diferentes do planeta Vênus e ignorando os depoimentos adicionais e o próprio registro do objeto nos radares do CINDACTA. Sobre este aspecto específico, Mourão declarou: “Não sei como é possível que o CINDACTA tenha registrado um objeto lá, se nada havia além de Vênus. Ademias, há uma quantidade enorme de meteoros que entram o tempo todo na atmosfera e poderiam causar o engano”.

Essa declaração de Mourão é interessante, pois reflete uma certa falta de argumentos para explicar aspectos específicos do caso. Um meteoro não é captado nos radares, pois se desintegra nas altas camadas da atmosfera, muito acima da área de monitoramento dos radares de tráfego aéreo. Além disso, a passagem de um meteoro é algo rápido. Jamais permaneceria por longo tempo, como no caso do voo 169. Por fim, se um meteoro chegar ao solo, não haverá tempo hábil de registro nos radares e haveria uma área de impacto que seria noticiada na imprensa e documentada por ser de interesse científico. E como sabemos, nada houve de registro nessa região, nessa época.

Um outro detalhe interessante que invalida e derruba a explicação de Mourão é o fato de que o objeto luminoso começou a ser observado nas proximidades de Petrolina (PE). Mais tarde, somente quando estavam sobre a Bahia é que observaram o surgimento de Vênus no horizonte. O objeto permaneceu à esquerda do planeta Vênus, um dado confirmado pelos registros fotográficos feitos na ocasião e que foram solenemente ignorados pelo astrônomo. Vênus tinha um diâmetro 3 vezes menor do que a misteriosa luz observada, estando 10 a 15 graus à sua.

Quando estavam nas proximidades de Bom Jesus da Lapa, ainda no estado da Bahia, a estranha luz realizou movimentos interessantes, pulando da posição lateral de 90 graus (em relação ao avião) e à esquerda de Vênus, para ficar a direita do planeta, chegando a ser visualizada, em alguns momentos pela janela frontal esquerda do avião. Então ele parava até que o avião emparelhasse com ele ficando novamente na mesma posição à esquerda, ou em um forte movimento voltava à posição original.

Outra explicação leviana que foi aventada para o caso envolveria um reflexo do Sol, em nuvens altas na atmosfera. Terezinha Macedo, passageira do voo, discorda. Segundo ela o Sol estava abaixo do horizonte e objeto não aparentava refletir luz e sim ter luz própria.

Em 2013 surgiu outra tentativa de explicação pelo físico Luiz Augusto Leitão da Silva, combinando dois fenômenos atmosféricos. Em artigo publicado na revista Journal of Scientific Exploration ele afirma:

“De particular interesse para o nosso estudo são dois tipos de miragens, conhecidas como Fata Morgana e Novaya Zemlya. Ambos são conhecidos há séculos. As Fata Morganas produzem efeitos curiosos, como a projeção no ar de imagens de navios e até cidades inteiras situadas próximas ou ligeiramente além do horizonte do observador (ver, por exemplo, Charton 1870). O efeito Novaya Zemlya foi observado pela primeira vez em 1597 pelo explorador polar holandês Willem Barents (c. 1550 – 1597) quando ele estava na região do Ártico russo a nordeste da Finlândia (Sampson 1993). Tal miragem pode antecipar o surgimento de um corpo celeste conduzindo seus raios de luz ao longo de um caminho curvo entre duas camadas de ar com temperaturas diferentes durante uma inversão térmica.

Tais inversões térmicas são mais frequentes antes do amanhecer, porque raramente sobrevivem ao aquecimento atmosférico diurno. Na verdade, as condições de miragem noturnas podem persistir por longos períodos. Portanto, parece possível que um efeito semelhante tenha acompanhado a ascensão de Vênus naquela manhã e, ao mesmo tempo, distorcido sua imagem. Uma miragem típica pode causar uma concentração variável, mas intensa de raios de luz. Cintilações e variações de brilho aparentes simulariam os movimentos de aproximação relatados pelo Comandante Gérson Britto. Sediada no relatório oficial do incidente (Britto 1982), os únicos movimentos observados do UAP eram as aparentes aproximações e partidas ao longo da direção perpendicular à da rota do avião. Sem traduções laterais são citados, apenas oscilações verticais. A dispersão aleatória de diferentes comprimentos de onda de luz também pode ocorrer, explicando as diversas cores observadas. Na Figura 5 reproduzimos os desenhos de Britto publicados na imprensa brasileira. Eles são totalmente compatíveis com uma imagem de Vênus distorcida por uma miragem atmosférica.

Um ponto crítico aqui é que geralmente uma miragem Fata Morgana produz imagens situadas logo acima do horizonte. No entanto, no efeito Novaya Zemlya, objetos reais estão efetivamente vários graus abaixo do horizonte. Mesmo assim, a miragem pode ser vista vários graus acima da linha do horizonte. É importante mencionar que o efeito Novaya Zemlya pode ocorrer em qualquer lugar, não apenas nas regiões polares, se as variações de temperatura forem grandes o suficiente para produzir uma alta refração. De acordo com Heidorn (1999), no caso das miragens de Novaya Zemlya, são possíveis elevações aparentes (ou seja, deslocamentos) de 5 graus ou mais. Os raios de luz devem viajar dentro de uma camada de inversão por centenas de quilômetros. A camada deve ter o gradiente de temperatura certo para que a luz se curve continuamente com a curvatura da Terra nessa longa distância (400 km para um aumento de 5 graus na elevação).

Tecnicamente, quando uma imagem aparece muito mais alta no céu do que a posição real do objeto, a condição é chamada de iminente. De fato, a forma mais comum de miragem superior está se aproximando. A maioria das miragens iminentes ocorre sobre grandes massas de água que são muito mais frias do que o ar acima.

Quanto maior e mais profunda a inversão, mais alto o objeto aparece no céu. Em casos extremos envolvendo forte vulto, a imagem pode aparecer relativamente alta no céu, embora ainda próxima da linha do horizonte.

A suposta detecção de radar é uma das questões mais controversas envolvendo o caso do voo UFO VASP-169. De fato, às 4 h, 18 min (GMT-3 h), o CINDACTA comunicou ao piloto que houve um blipe na posição 9 h a cerca de 8 milhas do avião. Em geral, os ufólogos consideram esta forte evidência da presença de um OVNI real voando próximo ao avião.

No entanto, alguns dias depois, um boletim oficial afirmou que o sinal “não era significativo, tendo aparecido também perto de outros aviões naquela noite”. Além disso, a lista de evidências que suportam a hipótese de Vênus é longa e razoavelmente bem justificada, por isso acredita-se que a detecção de radar mencionada poderia ser simplesmente um anjo de ponto de radar, ou seja, um eco espúrio, que às vezes se origina de inversões térmicas (Corliss 1984). De acordo com para Glover et ai. (1966), os anjos de pontos de radar podem ser atribuídos a insetos, pássaros ou perturbações de refração atmosférica. Veja também Goodman (1954), Rumi (1957) e Atlas (1965). Esses alvos falsos podem persistir por até 35 minutos e frequentemente têm uma velocidade significativa em relação à velocidade média do vento. Experimentos sugerem que existe de fato um tipo de radar dot angel causado por perturbações atmosféricas no índice de refração (associado a inversões de temperatura) em camadas atmosféricas de não mais do que alguns metros de espessura, nas quais ocorrem vórtices turbulentos do tamanho de alguns centímetros.

Portanto, o sinal de radar do voo VASP-169 pode, de fato, apontar para um efeito de miragem atmosférica. A  possibilidade alternativa de um fantasma de radar (ecos de radar de alvos distantes que parecem próximos) parece menos atraente neste caso.

Para alguém que usa rigorosamente o método científico, o episódio do voo VASP 169 não pode ser atribuído a nada além de uma observação de Vênus afetada por um possível efeito de miragem atmosférica, mal interpretado por um piloto aéreo com uma tendência óbvia a acreditar em origens alienígenas por motivos inexplicáveis”.

 

Ao longo do artigo, percebe-se uma clara tendência do autor, Leitão da Silva, em diminuir detalhes fundamentais do caso, além de ignorar alguns aspectos, na tentativa de tornar um fenômeno raríssimo, associado à outro fenômeno não tão comum, para explicar o caso aqui exposto.

Ao longo do artigo o autor alega que Britto afirmou que Vênus surgiu no céu antes do avistamento do OVNI, quando nas entrevistas, Britto  afirma que foi depois e que o planeta foi observado simultâneamente com a misteriosa luz.

Outra afirmação equivocada do autor envolve supostos dois graus de distância entre o planeta e a posição do objeto relatado por Britto. Em suas declarações Britto sempre foi incisivo no fato de que essa variação era de 10º a 20º, o que o distancia de forma significativa daquele corpo celeste.

Em outro ponto do artigo, o cientista alega que o Britto relatou apenas oscilações verticais, quando na verdade ele relatou movimentos verticais e horizontais significativos. Tanto é que existem desenhos e representações feitas por ele representando esses movimentos.

O elemento principal dos argumentos do físico envolvem dois fenômenos atmosféricos: Fata Morgana e Novaya Zemlya. O primeiro é provocado por uma inversão térmica, produzindo uma miragem. Com tempo calmo, a separação regular entre o ar quente e o ar frio (mais denso) perto da superfície terrestre pode atuar como uma lente refratante, produzindo uma imagem invertida, sobre a qual a imagem distante parece flutuar. Os efeitos Fata Morgana costumam ser visíveis de manhã, depois de uma noite fria. É um efeito habitual em vales de alta montanha, onde o efeito se vê acentuado pela curvatura do vale, que cancela a curvatura da Terra. Também se costuma ver de manhã nos mares árticos, com o mar muito calmo, e é habitual nas superfícies geladas da Antártida. Levando em conta o fato de que o voo 169 estava sobre uma região relativamente quente, em época de verão, essa hipótese perde a força.

O segundo fenômeno indicado pelo autor seria o Novaya Zemlya, que ocorre com mais frequência em regiões mais frias, próximas aos pólos. Inclusive, seu nome deriva de uma ilha, no território russo, onde o fenômeno foi registrado pela primeira vez. Entretanto, conforme já se documentou cientificamente, este efeito pode ocorrer quando existe variação significativa de temperatura. Neste caso, a luz de um corpo abaixo do horizonte é conduzida fazendo-o ser visto acima do horizonte, com até 5 graus de variação. Se analisarmos os fatos sobre o Voo 169, vemos que essa hipótese também não se sustenta, dada a presença de Vênus no céu junto ao OVNI, em uma variação angular de 10º a 20º. Esse detalhe, somado aos movimentos observados no objeto eliminam a hipótese de miragens como explicação para o caso.

Efeito Novaya Zemlya

 

Análises Interessantes

O site Ufologia Objetiva fez uma análise muito interessante e que foi uma das bases para este artigo. Sua análise sobre as possíveis explicações envolvendo o planeta Vênus são formidáveis. Reproduziremos aqui trechos deste artigo e recomendamos fortemente a leitura do artigo completo por eles realizado e disponível no link: http://www.ufologiaobjetiva.com.br/vasp-169/.

Outro detalhe importante envolve o tamanho do objeto. Estimando a distância do objeto pelo radar, o comandante pode compará-lo a outros objetos conhecidos em posição semelhante, chegando a uma estimativa de tamanho. Esse tamanho avaliado seria o de dois aviões Jumbo juntos. Jumbo é o apelido do Boeing 747. Ele tem 68,5 metros de envergadura e 76,3 metros de comprimento, sendo um dos aviões mais conhecidos da história da aviação. Os jumbos voam comercialmente desde 1969, sendo perfeitamente natural que um deles tenha sido usado como referência pelo piloto. O tamanho estimado, assim, seria algo entre 137 e 153 metros de diâmetro. Em sua entrevista, o comandante Pravato, do Transbrasil afirma que o objeto teria o tamanho de “duas luas”. Ao que parece, há desculpável exagero. Estando a 26 milhas de distância, o objeto deveria ter diâmetro angular de cerca de 0,2º, ou 40% do tamanho da Lua. Grande, sem dúvida, mas não tanto.

[…]

A observação realizada pelo voo Vasp 169 resiste às tentativas de explicação trivial. Todo um leque de possibilidades já foi levantado na época, como Vênus, Meteoros, Satélites, Balões, Raios Bola ou mesmo a Lua. Essas possibilidades continuam sendo referenciadas ainda hoje pelos céticos, mas têm se mostrado incapazes de comportar satisfatoriamente todos os eventos ocorridos e mesmo o esforço de unir várias delas num único quadro explicativo apresenta problemas. Vejamos, a seguir, uma análise dessas hipóteses e suas limitações.

Vênus

A possibilidade da ocorrência ter sido causada por uma confusão com o planeta Vênus foi levantada no decorrer do próprio avistamento. Ela foi taxativamente rechaçada pelo comandante Britto e a tripulação da cabine, que buscava ativamente identificar o objeto em condições de plena visibilidade. Além das características luminosas, tamanho e movimento, completamente distintas do planeta, o comandante afirma que ambos chegaram a ser vistos simultaneamente, sendo o objeto muito mais brilhante. Pode ser razoável assumir que um leigo confunda Vênus com um OVNI, mas é insensato considerar que um grupo experiente de pilotos profissionais avaliaria o planeta com sendo uma outra aeronave.
[…]
Qualquer um que analise os fatos, ou tenha feito uma viagem na mesma rota e horário do Vasp 169, certamente descartará Vênus como uma possibilidade explicativa. Entretanto, é importante saber que o planeta era visível do avião no momento do avistamento, ao ponto de ter sido mencionado como possibilidade pelo piloto do Aerolíneas Argentinas e descartado como tal pela equipe do VASP . De fato, o planeta era invisível do solo, só despontando no horizonte às 5h10min, o que pode ter causado confusão nas informações de ausência mencionadas acima por Marco Antonio Petit. Mas, a 9.4 km de altura, onde estava o avião, era possível ver o astro. Vamos demonstrar o raciocínio.

Naquele dia, o planeta alcançaria o centro do céu (Zenith), aproximadamente às 11h10min. Como surgiu no horizonte as 5h10min isso equivale a um deslocamento de 90º em 6 horas, ou 15º/h. O primeiro contato ocorreu aproximadamente duas horas antes de Vênus surgir no horizonte ao nível do solo. Em duas horas, ele se deslocava aproximadamente 30º, de modo que é possível assumir que no momento do avistamento ele estivesse a cerca de 30º abaixo do horizonte ao nível do solo.

Esquema do cálculo (aproximado). Créditos: Ufologia Objetiva

 

Ao nível do solo, o horizonte se encontra a aproximadamente 5 km. Considerando o horizonte como referência, os 30º correpondem ao ângulo “b” do esquema ilustrativo acima. Resta estimar se a posição do avião, a 9.4 km de altura, poderia fornecer o deslocamento angular necessário para que o planeta estivesse ao seu alcance visual. Esse cálculo corresponde ao ângulo “a” do esquema ilustrativo. A tangente é dada por 9.4 km/5 km = 1.88. O arco tangente é dado por 1/1.88 = 0,5319. Covertendo para graus, temos 0,5319*180/Π = 30,47º. Assim, com uma folga de aproximadamente 0,47º, deve-se assumir que era possível ver Vênus do avião no momento do avistamento, pouco acima da linha do horizonte.

Mas, se o planeta era visível, é possível que ele tenha sido confundido com um Disco Voador? Pelos motivos até aqui expostos, parece evidente que não. Os que pretenderem defender essa leitura devem necessariamente fornecer explicações para pelo menos quatro elementos: cor, tamanho, posição e movimento.

Quanto à cor e tamanho, o argumento base seria que a posição do planeta na linha do horizonte permitiria distorções provocadas pela atmosfera, causando as impressões descritas. Apesar de possível, há problemas em relação à magnitude e características dessas distorções. Não constam precedentes de que distorções atmosféricas possam fazer Vênus alcançar o tamanho aparente de 0,67º – 34% maior que a Lua -, diâmetro angular necessário para se deduzir que um objeto a oito milhas tem 150 metros. Também se sabe que no horizonte, devido à atmosfera, a luz dos astros tende ao vermelho. Seriam necessárias condições extremamente peculiares para Vênus apresentar uma alternância de cores como a descrita, de abrangência uniforme e envolvendo tanto cores quentes quanto frias.

Apesar dessas dificuldades, as mais consistentes contra a tese de Vênus são as relativas à posição e movimento. Elas só são sustentáveis quando baseadas em recortes do testemunho, comparando os ângulos formados entre o avião e o planeta em determinadas passagens, ignorando outras.

Consta que momentos antes do aparecimento do objeto, o Vasp entrou na aerovia UR 1, passando para a direção dos 213°. Uma vez que naquele momento Vênus estava aproximadamente na posição 95°, ele passaria a ser visível às 8h da aeronave, o que coincide com a posição aproximada do objeto em alguns momentos do relato, como mostra o esquema abaixo.

Vasp 213°, Vênus 95°, OVNI 8h. Crédidos: Ufologia Objetiva

 

Apenas após a mudança de rota o objeto foi visto. Isso, de fato, pode ser considerado sugestivo. Entretanto, o planeta deveria permanecer praticamente na mesma posição durante toda a viagem, enquanto o avião mantivesse a rota. Não havendo instruções para alterar o trajeto e não considerando o objeto uma ameaça num primeiro momento, a aeronave manteve rota firme durante grande parte do voo, como é típico em viagem comerciais. Nesses períodos, com avião estabilizado e com rota fixa, ocorreram grande parte das movimentações do objeto, o que seria impossível se ele fosse Vênus.

A próxima modificação de rota ocorre muito depois de Belo Horizonte, com o avião tomando o rumo dos 198°. O movimento deixa Vênus aproximadamente na posição 9h do avião, como mostra o esquema abaixo. Vale notar que a posição do objeto não se manteve constante, em conformidade com a rota do avião, mas alternou posições diretamente à esquerda da aeronave, às 9h, com outras de pequeno recuo, às 8h, e outras ainda mais anômalas.

Vasp 198°, Vênus 95°, OVNI 9h. Créditos: Ufologia Objetiva

 

Foi divulgado que técnicos do radar de Brasília deduziram, pela análise das comunicações, que o objeto estaria parado no período do contato entre o controle e o Vasp 169. Isso porque o controle teria recomendado uma mudança de rumo ao Vasp, tendo o ângulo de visão da luz variado na mesma dimensão do deslocamento sugerido. Pela leitura da transcrição das comunicações, nota-se duas mudanças na posição do objeto: das 9h para as 8h e das 8h para as 9h. Uma variação de 1h na posição de um objeto estático corresponde a uma mudança de 15º no rumo da aeronave. Confesso não ter encontrado nenhum comando nesse sentido para justificar os dois movimentos, próximos a 15º e em sentidos contrários, de modo a possibilitar as visualizações registradas.

A última mudança significativa de rota parece ter ocorrido quando o avião manobrou para o pouso na pista nº 14 do Galeão. No processo, o objeto desaparece, ressurgindo na posição 11h. O avião alinhou-se para 137°, o que deixou Vênus quase precisamente na posição 11h, conforme esquema abaixo. É sensato considerar a possibilidade de que a cabine teria perdido o objeto de vista durante a manobra, voltando a observá-lo após alinhar o avião com a pista.

Vasp 137°, Vênus 95°, OVNI 11h

 

Vênus, contudo, como demonstrado nos cálculos anteriores, estava demasiadamente perto do horizonte às 4h37min, no momento do pouso. Com a aproximação do avião do solo, o ângulo de visão do planeta diminuiria até seu desaparecimento, uma vez que só seria visível no horizonte ao nível do solo às 5h10min. Visualmente, se fosse o planeta, a tripulação do avião julgaria que o objeto estava fugindo para o horizonte, conforme prosseguia a descida para o pouso, e não se deslocando no nível de 1,82 km sobre a Guanabara.

A hipótese de Vênus também foi descartada pelo comandante Pravato da Transbrasil, segunda aeronave a visualizar o objeto. Segundo suas próprias palavras, isso seria impossível, pois o planeta estaria no céu e não na mesma linha do avião. Acredito ser evidente que o comandante Pravato, com suas mais de 7 mil horas de voo na época, não ignorava que estrelas e planetas poderiam aparecer na linha do horizonte. As afirmações, certamente, foram realizadas no sentido de uma percepção clara de que o objeto não se encontrava no firmamento, como seria esperado se ele fosse um astro, mas na atmosfera, no mesmo nível de voo das aeronaves.

Transbrasil 213º, Vênus 95º, Vasp e OVNI 11h. Créditos: Ufologia Objetiva

 

Igualmente, Vênus não converge com a posição de observação do Transbrasil, conforme registrado pelo CINDACTA e ilustrado pelo esquema acima. O QD 177 seguia atrás do Vasp, para o sul, de Brasília para o Rio de Janeiro, também tendo passado sobre Belo Horizonte. Em certo momento da observação, tendo percorrido 50 milhas em direção a Barra de Piraí, restando 130 milhas para o destino, o Vasp e o objeto se encontravam efetivamente às 11h de sua posição. Se fosse Vênus, a nuvem luminosa do Transbrasil deveria aparecer na posição 8h e não 11h da aeronave Transbrasil.

Se o objeto fosse Vênus, ele também voltaria a ser visível, com as mesmas características, aproximadamente na posição 7h, tanto do Vasp quanto do Transbrasil, tão logo eles decolassem para o trecho de São Paulo. Isso também não aconteceu, apesar do presumível estado de alerta da tripulação e dos passageiros do Vasp e da cabine de comando do Transbrasil.

Quanto ao Aerolíneas Argentinas, o comandante Pravato assumiu que houve uma omissão quando a aeronave declarou não estar observando o objeto. À luz do ácido ceticismo que os outros protagonistas do caso tiveram que enfrentar, esse sutil ressentimento é compreensível. Contudo, o cruzamento da posição das aeronaves fornece uma outra explicação. O AR 169 estava na rota 240º, de frente para Campinas, estável, 30 milhas à sudoeste de Belo Horizonte. O Vasp, tendo passado por Belo Horizonte, estava na rota 213º, no trecho Brasília-Rio, 71 milhas na direção de Piraí, com o objeto às 9h. Assim, com o ângulo de 27º entre as rotas do Argentina e do Vasp, é possível obter suas posições e distâncias relativas, conforme ilustrado abaixo.

Argentina 240°, Vênus 95°, Vasp e OVNI 11h

 

O Argentina encontrava-se a 46 milhas – 74,5 quilômetros – do Vasp e do objeto. Com seus estimados 150 metros de comprimento, o objeto tinha diâmetro angular de apenas 6.9 minutos de arco para o Argentina, facilmente confundível com as estrelas do firmamento.Seis minutos de arco é aproximadamente a distância entre as estrelas Mizar e Alcor, da constelação de Ursa Maior, que eram usadas como teste para a visão dos arqueiros reais na idade média. Apenas se conseguissem ver duas estrelas e não apenas uma, os arqueiros eram aceitos.

Ter boa visão é um requisito para pilotos de todo o mundo, mas distinguir a diferença entre um objeto brilhante com 6.9 minutos de arco e uma estrela qualquer, sem uma carta celeste, seria uma exigência demasiada. Por outro lado, se o objeto fosse um fenômeno astronômico ou atmosférico extraordinário, ele em algum momento seria visualizado com facilidade pelo AR 169, que se encontrava na mesma região e na mesma altura das outras duas aeronaves. Resta claro que o objeto não estava distante, mas próximo do Vasp, conforme registrado pela própria aeronave, pelo Transbrasil e pelo radar de Brasília.

Por fim, apesar da estranheza na demora da sinalização, não se deve desprezar a excessiva “coincidência” entre a posição e deslocamento do objeto e a detecção por radar em determinado trecho, impossível se ele fosse o planeta.

Apesar das inúmeras tentativas céticas, pseudo-céticas e negacionistas, o Caso do Voo VASP, 169 continua sólido, como um legítimo caso ufológico, com centenas de testemunhas em três aviões comerciais e em solo, além do registro de radar, que é uma comprovação eletromagnética do avistamento, pois o equipamento indicou um alvo não identificado na mesma posição avistada pelos pilotos das três aeronaves, sendo isso de caráter incontestável.

Gerson Maciel de Britto e todos aqueles que estavam no Voo 169 tiveram a oportunidade incrível de avistar um grande espetáculo ufológico.

Reconstituição do caso do Voo 169, da VASP, em 8 de fevereiro de 1982.

 

Mapa indicando os momentos finais do voo 169 e a posição do objeto.

 

 

Reportagens publicadas na imprensa, noticiando o Caso do Voo 169, da VASP.

 

Reportagens publicadas na imprensa, noticiando o Caso do Voo 169, da VASP.

 

Reportagens publicadas na imprensa, noticiando o Caso do Voo 169, da VASP.

 

Reportagens publicadas na imprensa, noticiando o Caso do Voo 169, da VASP.

 

Reportagens publicadas na imprensa, noticiando o Caso do Voo 169, da VASP.

 

Reportagens publicadas na imprensa, noticiando o Caso do Voo 169, da VASP.

 

Reportagens publicadas na imprensa, noticiando o Caso do Voo 169, da VASP.
Reportagens publicadas na imprensa, noticiando o Caso do Voo 169, da VASP.

 

Reportagens publicadas na imprensa, noticiando o Caso do Voo 169, da VASP.

 

Reportagens publicadas na imprensa, noticiando o Caso do Voo 169, da VASP.

 

Reportagens publicadas na imprensa, noticiando o Caso do Voo 169, da VASP.

 

Referências:


  1. Boletim da SBEDV – Ed. 146_154
  2. BRITTO, G. M. Caso VASP 169: Um avião, seus tripulantes e passageiros, tomam contato real com emissários de civilizações extraterrestres. Ufologia Nacional e Internacional, Campo Grande, nº 8, 06-17, ago/1988
  3. BRITTO, G. M. Voo 169 – Fronteiras do Desconhecido. Revista UFO Especial, Campo Grande, nº 19, 19-25, maio-julho/1989
  4. BRITTO, G. M. Caso VASP voo 169 – Quinze anos depois. Revista UFO, Campo Grande, nº 55, nov/1989
  5. Arquivo  Interno da VASP, referente ao caso [3 páginas – 952 KB]
  6. Arquivos da Força Aérea Brasileira, referentes ao caso – inclui transcrição das comunicações [12 páginas – 3.36 MB]
  7. da Silva, L. A. L., (2013). “Unidentified Aerial Phenomena: The VASP-169 Flight Brazilian Episode Revisited”, Journal of Scientific Exploration,27, 637.
  8. http://727datacenter.net/hist/especiais/especial13/especial13.htm
  9. https://www.aerocurso.com/?r=noticia/view&id=2359
  10. http://www.ufologiaobjetiva.com.br/vasp-169/
  11. https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/voo-169-o-misterioso-avistamento-ovni-com-maior-numero-de-testumnhas.phtml
  12. https://www.cavok.com.br/brasil-o-estranho-caso-do-voo-vasp-169
  13. https://canaljoaomarcelo.blogspot.com/2020/07/um-ovni-na-rota-do-voo-169-rodrigo.html
  14. https://www.tumgir.com/tag/Ponte%20A%C3%A9rea
  15. http://desastresaereosnews.blogspot.com/2021/08/historia-voo-169-o-misterioso.html

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